domingo, 31 de julho de 2011

Texto: Simbiose.

Texto em homenagem a um grande parceiro:

E um dia ouvimos que somos muito sensíveis. Por querer-te, por guardar-te, por me desfazer pra te deixar entrar, por me reconhecer nas coisas novas que me mostra, por me refazer de mim a cada porta que me abres? Não faço isso por ti, mas por mim. Me doar não é me perder, é me achar. Se me perco é por que me encontro em teus braços, e neles faço morada, me desprendo do que nunca foi meu para encontrar abrigo no que é teu. Que dó de quem não perde a identidade e os passos ao encontrar um amor. Pra me achar, preciso me perder de mim, e sem identidade vago tateando, experimentando, saboreando, sentindo, coisas que sob meu ponto de vista anterior, não seria jamais instigado a experimentar. Quando me perco e saio de mim, dou uma nova luz a minha vida e largo os preconceitos para me entregar sem escrúpulos ao novo que a vida me oferece. O que você não percebe é que perder é ganhar, ganho quando entro em teu mundo e nele faço morada para tirar algo que me identifique, e ao me identificar, o que é teu, já não é mais teu, é meu, me aposso do que passou a me pertencer. Sou a falta de identidade que me faz abrir os braços para o que a vida me oferece, sou a falta de verdades que assume o que é dos outros por meu. Sou sensível sim, às mudanças, pena de quem não é.

Quadro: Olhos da cidade




A cidade sob o olhar de quem a vê...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Poesia: Ajustes...

As horas passam,
sempre as horas...
Tudo está em seu lugar de origem.
Guardadas as coisas do armário,
pendurados os quadros da parede,
Varrida a poeira da rua,
enxugado, lavado, torcido.
Exatamente como antes.
Mas as cores estão diferentes,
ficaram dissonantes.
Algo se foi,
e deu vazão a outro porvir.
De dentro se enxerga tudo distante,
Tão distante que não existe movimento.
São pequenos trechos,
de cantos sussurrados,
Cores distorcidas.

sábado, 16 de julho de 2011

Texto: Vida louca...

Chegamos numa determinada idade que deixamos de nos preocupar tanto com a opinião dos outros. Um tempo em que percebemos que queremos perto pessoas leves, que pensem e ajam parecido com a gente. Isso não quer dizer que o oposto também não atraia. Pessoas com uma visão do mundo totalmente diferente da nossa, mas que tem muito a nos ensinar também nos acrescentam. Chega uma época que uma topada não dói mais tanto, o dedo já está meio calejado e amorteceu. Isso não quer dizer que um belo pôr-do-sol não nos faça sentir emoção. Um tempo em que vivemos melhor pois aprendemos a ter paciência com nós mesmos. Isso não faz com que não acordemos um dia achando que está tudo errado, só nos acostumamos a saber que isso acontece. Não somos pessoas acomodadas e buscamos a cada dia algo novo, apesar de gostar do velho também, o velho travesseiro, o velho amigo, o chinelo velho e o amor antigo, que não precisam que nos expliquemos a cada momento por sermos tão inconstantes. Chega um dia em que aprendemos um pouco mais sobre nós e não fechamos mais os olhos para nossos defeitos, os acomodamos da forma que dá, no sofá da sala, sem querer escondê-los no porão, convidando-os a entrar sem vergonha pois aprendemos também que somos humanos e portanto, ser só perfeição é impossível. Percebemos que as vezes é melhor não entender, pois algumas coisas não tem explicação, e outras tem explicações que não cabem dentro de nós. Aprendemos também que “os outros” tem sua visão das coisas e vontades próprias, e nadar contra a maré é destruir a nós e a eles. Aprendemos que a vida nos oferece coisas que só serão enxergadas se nossos olhos perderem a visão, as coisas belas estão em coisas que não podemos ver. Um tempo de trégua com nós mesmos e essa louca vida .

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Poesia: ...

Vejo pessoas correndo,
chegando,
ficando,
fugindo.

Me reconheço em cada rosto,
em cada piso em falso,
cada luz apagada,
cada estrada,
encruzilhada.

Todos nós,
tentando sermos e termos,
cada voz indignada,
cada noite acordada,
cada passo pensado
sem saber aonde vai,
cada grito rouco,
cada frase solta,
cada pensamento louco,
cada quase nada,
cada quase tudo,
que podemos ser.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Poesia: O tempo

O tempo

A vida passa ao longe,
nem consigo acompanhar
de tão rápida que vai.

Fico olhando
seus seguidores,
que nem percebem-se observados
de tão concentrados em si.

Alguém tropeça
e fica pra trás.

E ela,
linda e radiante,
segue a frente
da marcha da massa,
marcha de espectros,
marcha de quem não percebe
que o tempo sublime e calmo observa,
tranquilo,
rindo do desespero
de quem não tem tempo a perder.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Meu peito

Meu peito sangra continuamente.
Sangra nas conversas não explicadas,
nas frases mal interpretadas,
sangra na falta de diálogo.

Meu peito sangra na falta de espaço,
sangra no descompasso,
sangra no grito falho.

Meu peito sangra na falta de cuidado,
na mentira deslavada,
na covardia das palavras.

Meu peito sangra de agonia,
na deslealdade, na falsa moralidade,
na modéstia de quem não a tem.

Meu peito sangra no descumprimeto,
na armadilha, falsa vida, ato falho,
na imprestável disritmia
de culpar a quem não a tem.

domingo, 3 de julho de 2011

Texto: Seguir em frente.

Li uma frase um dia desses que não me saiu mais da cabeça:
"É tão pouco o que me faz ficar,
mas é preciso tanto para partir"

Quem nunca viveu isso que atire a primeira pedra. As vezes a vida é tão dura e mesmo assim continuamos, esmagados pelo medo, em nossa luta diária tentando fazer com que "aquilo de certo". Aquilo mude de alguma forma. O problema é quando não temos mais o que fazer, já tentamos de tudo e não mudou "aquilo que nos atormenta". Dai, ou ficamos e morremos um pouco a cada dia, ou "chutamos o balde", antes que nossa energia toda tenha sumido e nem coragem tenhamos mais para mudar algo. Porque o que não agrada suga nossas forças ( lembro sempre daquele submarino no jogo do Atari, que pagava os homenzinhos e ia em cima para recobrar as energia, faço sempre essa comparação com nossa vida "real"). Pior fica depois, quando decidimos que não queremos mais aquilo ou aquela situação. O que fazer? Pra onde ir? Sem saber o que fazer, as vezes continuamos no mesmo lugar, esperando que uma "luz" nos ilumine. Isso não vai cair do céu, pode ter certeza. Você vai continuar no mesmo lugar e as vezes é melhor seguir tateando no escuro, do que ficar parada no tempo. Coragem para ir, mesmo não sabendo aonde, é loucura. Sim é loucura mas se meu peito queima e quer encontrar algo que nem eu sei, vou continuar. Vamos ver no que vai dar ou permanecer parados no tempo? Essa decisão só cabe a nós.